O frio que faz lá fora gela-me a alma desacompanhada. Ouvem-se as folhas caídas das árvores a rolar pelo chão ao sabor do vento. Estão secas e em breve vão ficar molhadas assim que chegar a chuva. Não tarda muito. O céu está cinzento e as nuvens carregadas de um cinzento escuro.
Tive de me abrigar das rajadas de vento que me incomodavam e já não as suportava. A alma enrugava cada vez que vinha uma nova rajada de vento. Temos que nos defender do que é desagradável, não é? E assim fugi, fiquei a olhar pela janela o movimento dos outros pintado com as cores do Outono. Gosto delas, são visivelmente quentes, mas sabem a frio. Pedem calor humano. O teu calor. Não estás cá. E por isso fico a pensar que exposta ao frio, só a tua lembrança me aquece a alma. Mas não me satisfaço. Lembrar-te, pensar-te é pouco, perante o que preciso. É tão notória a diferença quando as nossas almas se juntam...
A solidão permite tudo e eu permito-me pensar. Há 730 dias e 730 noites que fazes parte de mim. Fazes inteiramente parte de mim há muito entre aquilo que parece pouco tempo. Quis tanto que chegasses à minha vida muito antes... Mas sabia que, para te receber como merecias, tinha eu de percorrer um caminho sinuoso, invernoso, acidentado e perigoso. Quando finalmente chegaste, o tempo parou. Deixou de importar o que fazia, mas como fazia e era sempre tudo em função de ti. Assumiste o primeiro lugar do podium. Tu, tudo.
Entre os suspiros e as curvas da vida, tive de parar. Não te importas? Uma paragem curta para pensar. Considero importante pensar, nesta altura de ultrapassagem de uma barreira, para ti, psicológica. Passaste-a com a distinção que não te é característica mas que terá de ser reconhecida e louvada. Parabéns a ti e a nós!
Foi um tempo não de convivência comum, mas de envolvência mútua, a muitos níveis. Fomos, fizemos, rimos, dormimos, corremos. Tudo conjugado no plural, como se quer nas almas pares que se fazem unas.
Mas tenho de te confessar, que tenho frio agora. Não é do frio agreste da rua. É da falta do teu calor. Olho pela janela e a saudade petrifica-me e empalidece parte da alma. Esquece o que sou, o que fui, como fui e como sou. Redescobre-me e descobre-me. Vê-me de novo. Há mais para conhecer. Há mais pós de perlimpimpim só para ti, ao acordar, e não é só nos dias de magia.
Hoje, agora, é o zero do teu relógio, daqui em diante é o novo, é mais. Só pode ser. Torna as cores quentes do Outono a saberem a quente e darem a magia que já deram, mesmo em noites de negro imposto pelo negrume da alma. Lembras-te? Porque tu sabes que a magia das coisas emana do toque e da vontade de as tornar mágicas. Sabes, sim, e eu quero essa magia toda.
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2 comentários:
Eu gosto de tentar tornar as minhas coisas mágicas... tratá-las bem para que a magia aconteça. :) Lindo.
Sem palavras...
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