terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um dia, vou ser feliz, ontem não foi o dia

Aquelas lágrimas que escorreram pelo meu rosto doeram. O sal arde quando passa por cima de cicatrizes, sabias? Elas aparentemente estão fechadas, mas quando expostas à corrosão das lágrimas ardem, muito. Lembrei-me no momento das palavras do meu pai quando dizia, há uns anos, que quando temos cicatrizes, temos ali um relógio para a vida. Queria ele dizer que, depois da ferida, fica apenas a marca, e damos conta da sua existência quando algo nos toca lá. Eu diria mais: as cicatrizes são um relógio de vida. As cicatrizes  contam histórias de vida e actuam como um receptor dos ácidos da vida, especialmente as cicatrizes da alma. E doem porque absorvem parte desses ácidos e dá-se uma espécie de corrosão, abrem um pouco.

Foi isso que senti, senti cicatrizes corroídas, a latejarem, como se tivessem sido abertas à faca fria de gume fino. Doeu tanto, que nem conseguia falar, queixar-me ou suplicar por ajuda ou mesmo respirar. Só conseguia chorar sufocadamente à socapa para ninguém ver nos momentos de solidão. Choro sempre sozinha, sou sempre eu quem limpa as minhas lágrimas. Sempre. E nem tu ouviste a minha voz húmida, dorida e a sangrar. A voz consegue camuflar estados de alma, aprendi isso ao longo da vida. A dor estava lá escondida. Fui muito infeliz naquele momento.

3 comentários:

S* disse...

Tens de combater as más fases... aprender a contornar ao fazer algo que realmente te deixe feliz. Boa sorte...

Sentimento de Mim disse...

Já passou, S*.

Petit Joe disse...

Verdade. Mesmo.