Foi talvez o momento mais assustador da minha vida. Segundos à espera de um resultado como se fosse a espera de um diagnóstico de saúde.
Estava sozinha naquele wc que não tinha nada de meu. Meio ensonada, uma parte de mim queria que fosse positivo o resultado, a outra metade queria manter tudo como estava. Porque eu sempre tive medo da mudança que uma criança teria na minha vida. Procedimentos feitos e... uma espera de segundos que recordo hoje, um ano depois, como interminável. Afastei a cara do mostrador.
Olhei para o lado a aguardar. O meu coração batia forte, como se quisesse sair do peito. Pensei neste momento em ti e como te diria se fosse positivo o resultado. Segundos. Foram segundos. Mas acho que esperei um minuto para olhar de soslaio para o pequeno visor e ver que havia por ali letras. Queria le-las e, ao mesmo tempo, um receio em como aquelas letras fossem vaticinar a mudança na minha vida para sempre sem que estivesse preparada. Medo. Sei que senti medo e angústia naqueles segundos de espera. E olhei. Olhei para o visor do teste. E lá estava a prova da mudança.
Ai - disse para mim silenciosamente - E agora? Passos de barata tonta na casa de banho. Senti-me no meio de um turbilhão de emoções. E agora como é que ele vai sair? Foi o meu primeiro pensamento. Sim, foi. Esse foi sempre o meu principal fator de medo para poder dar este passo. Sei hoje que o parto está entre as orelhas e a minha racionalidade não dá tréguas. E tanto que interferiu.
Tinha de te dizer naquele momento. No meu peito não cabia tamanho segredo. Dormias. Olhei para ti a dormir e em poucos segundos pensei que estaria a olhar para um novo homem. Como reagirias? Tu que querias tanto... sem receios, e com a certeza de que o caminho se faz caminhando e tudo se resolve com calma.
Toquei-te ao de leve no braço para te acordar sem grandes sobressaltos. Era ainda de madrugada. O dia ainda não tinha nascido. Abriste os olhos e sei que precisava de te dizer tranquilamente. Adivinhaste o final da minha frase final e abraçaste-me.
Abraçamo-nos. 11 anos depois a matemática da vida ensinava-nos que 1+1 podiam ser 3.
Foi o abraço que talvez mais tenha custado a dar a alguém. Sabia que as tuas lágrimas eram de felicidade. As minhas de um grande receio de muitos pontos de interrogação. Não conseguia estar tranquila. Tinha um gigante receio a invadir-me o peito. E agora?, pensava eu.
Sabia que estavas ali para mim. Mas era um caminho que tinha de ser eu a trilhar. Sozinha. Mas nunca estive sozinha. Estiveste sempre comigo. Num ano particularmente atípico, caminhamos os 2 ou os 3.
A luzinha que se transformou num baguinho gerou um ser lindo que aprendemos a amar mais ainda a cada dia que passa.
Somos uma família. Como dizias ontem, há momentos que nunca vamos esquecer. Sabemo-lo.
E tão grata que te estou por esta nossa caminhada em conjunto. Não me cabe no peito o orgulho que sinto por ti, no pai e no meu companheiro de aventuras de vida que és.
Gdt